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CESIT

A inteligência artificial (IA) tem sido tratada como o epicentro de uma nova transformação estrutural no mundo do trabalho. Em debate promovido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Luiz Gonzaga Belluzzo coordenou uma conversa com os economistas José Dari Krein e Marcelo Manzano sobre os impactos da IA na organização produtiva e na vida social.

O ponto de partida foi a analogia com a Revolução Industrial: assim como o maquinário redefiniu o papel do trabalho humano, a inteligência artificial avança sobre atividades antes consideradas protegidas pela qualificação e pela complexidade simbólica. Mas, diferentemente das transições anteriores, os efeitos atuais se estendem a todas as camadas profissionais, inclusive àquelas associadas ao conhecimento, à linguagem e à criatividade — como professores, advogados, contadores e psicólogos. A IA já está presente em plataformas de atendimento emocional e jurídico, ampliando a fronteira do que pode ser automatizado.

O debate ressaltou três grandes tipos de ocupações associadas à IA: os criadores de tecnologias e algoritmos, os operadores técnicos e analistas que aplicam essas ferramentas, e uma ampla camada invisível de microtrabalhadores, frequentemente localizados no Sul Global, que treinam os sistemas com baixíssimos salários e sem direitos. Essa nova divisão internacional do trabalho revela um padrão concentrador e excludente, em que os ganhos de produtividade não se traduzem, automaticamente, em bem-estar social.

A conversa também abordou a tensão entre os potenciais libertadores da IA — como o aumento do tempo livre e a redução do trabalho socialmente necessário — e a realidade da precarização, desproteção e sobrecarga vivenciada por trabalhadores. Embora existam experiências de redução da jornada semanal com ganhos em produtividade e qualidade de vida, o ambiente político-econômico atual tem favorecido um uso regressivo das inovações, ampliando desigualdades e submetendo indivíduos a lógicas de competição e isolamento.

Os participantes defenderam que a tecnologia não é neutra: ela reflete escolhas políticas e interesses econômicos. Por isso, é necessário que estados nacionais e organizações coletivas assumam protagonismo na definição dos rumos dessa transição. Isso inclui tributar os ganhos excessivos das big techs, fomentar ocupações sociais em saúde, educação, cuidado e cultura, e reconstruir vínculos sociais em meio à dissolução das formas tradicionais de sociabilidade.

A inteligência artificial carrega consigo promessas e ameaças. Pode ampliar a capacidade cognitiva humana e acelerar descobertas científicas, mas também pode aprisionar consciências, desorganizar democracias e aprofundar a mercantilização da vida. A forma como esses dilemas serão enfrentados depende de mobilização social, projeto político e capacidade de imaginar coletivamente um futuro que coloque a vida no centro.

Assista abaixo à íntegra do debate “A Inteligência Artificial e o Futuro do Trabalho”, promovido pelo IREE.

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