A organização do volume parte do reconhecimento de que a pobreza, a precarização e a concentração de renda não são fenômenos isolados, mas resultado de arranjos institucionais que moldam, ao mesmo tempo, o desenho das políticas, as condições de trabalho e a distribuição dos frutos do crescimento.
O primeiro bloco de estudos investiga a arquitetura das políticas públicas, detalhando como a definição do problema, a escolha dos instrumentos e a coordenação entre atores estatais determinam o alcance de programas voltados à redução da desigualdade. A análise demonstra que dispositivos legais bem fundamentados podem ser neutralizados por lacunas na execução, sinalizando a necessidade de ampliar capacidades institucionais e mecanismos de monitoramento.
Na sequência, a revista aprofunda a discussão sobre o conceito de “trabalho decente”, tema central das agendas internacionais do emprego. A partir de uma perspectiva materialista e latino-americana, os autores questionam a adoção acrítica de parâmetros globais, argumentando que tais referências podem encobrir relações de poder características das economias periféricas e, por conseguinte, legitimar situações de exploração que permanecem invisíveis nos indicadores oficiais.
O volume segue com uma radiografia do mercado de trabalho nos estados brasileiros entre 2016 e 2021. O mapeamento territorial revela assimetrias marcantes em ocupação, produtividade e remuneração, evidenciando a dificuldade de convergência regional mesmo em fases de expansão do emprego formal. As conclusões reforçam o papel estratégico de políticas anticíclicas focadas em regiões mais vulneráveis.
As transformações no meio rural ganham destaque em um estudo que associa o avanço tecnológico e a financeirização da produção à perda de viabilidade da agricultura familiar. O argumento central mostra que a pressão competitiva empurra pequenos produtores para formas de subemprego estrutural, reduzindo a capacidade de reprodução social no campo e estimulando fluxos migratórios que sobrecarregam mercados urbanos informais.
Ainda no eixo das políticas de incentivo econômico, a edição examina a desoneração da folha de pagamento como estratégia de estímulo ao emprego. Os resultados apontam que, na prática, o instrumento converteu-se em subsídio para segmentos específicos, sem contrapartida significativa na criação de postos de trabalho, agravando pressões sobre o orçamento público e exigindo reavaliação do custo-benefício da medida.
Por fim, um panorama de quase três décadas da distribuição de renda no Brasil mostra avanços observados a partir dos anos 2000 — impulsionados por salário mínimo, transferências e expansão do emprego formal — e retrocessos verificados em conjunturas de crise fiscal e estagnação econômica. A série histórica evidencia a fragilidade dos ganhos distributivos quando políticas compensatórias não são acompanhadas de reformas estruturais capazes de enfrentar a concentração de riqueza.