Ao contrário do que pregam setores refratários à mudança, o fim da escala 6×1 e a adoção de uma semana de trabalho de 36 horas não paralisariam a economia brasileira. Pelo contrário, a medida teria potencial para elevar a produtividade em 4,5% e criar mais de 4 milhões de novos postos de trabalho, especialmente nos setores de comércio e serviços. A análise é da economista Marilane Teixeira, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Unicamp, que detalhou os impactos da proposta em entrevista ao Conexão Brasil de Fato.
Teixeira é coautora de um estudo desenvolvido como resposta técnica a análises de mercado que projetavam uma queda de até 7% no Produto Interno Bruto (PIB) caso a jornada fosse reduzida. Para a pesquisadora, tais previsões partem de um pressuposto “simplista e maquiavélico” de que a economia estagna quando o trabalhador descansa. “A economia não vai paralisar. Se você tem uma jornada 4×3, outra pessoa vai trabalhar durante os dias de folga”, explicou, ressaltando que a dinâmica de escalas garante a continuidade dos serviços.
Produtividade e Emprego
Utilizando os mesmos parâmetros macroeconômicos de seus críticos, o estudo do CESIT projeta um cenário distinto: a redução da jornada média atual, estimada em 39,5 horas, para o teto de 36 horas, estimularia um ganho de produtividade — um fenômeno já observado em experiências internacionais e projetos-piloto no Brasil. A tecnologia atual, segundo a economista, permite produzir mais em menos tempo, tornando a resistência à mudança uma questão estritamente política, e não técnica.
“Os empresários disputam para que os ganhos de produtividade sejam incorporados totalmente por eles na forma de lucros. Eles não querem repartir com a sociedade oferecendo preços menores, nem com os trabalhadores reduzindo a jornada”, analisou Teixeira.
O impacto mais tangível, contudo, seria no mercado de trabalho. A necessidade de cobrir as folgas ampliadas poderia retirar da informalidade ou do desalento milhões de brasileiros. A estimativa é que a mudança gere entre 4 a 4,5 milhões de empregos formais, dinamizando a economia através do consumo gerado por esses novos salários e pelo tempo livre adquirido.
Saúde Mental e Desigualdade de Gênero
A discussão transcende a matemática econômica e toca em crises sociais agudas. Em 2024, o Brasil registrou meio milhão de afastamentos por doenças psicossociais, um reflexo direto de ambientes laborais marcados por pressão excessiva e assédio. A economista aponta que a insatisfação é particularmente notável entre os jovens, que rejeitam a lógica de viver exclusivamente para o trabalho, impulsionando a adesão popular ao fim da escala 6×1.
A proposta também carrega um componente de justiça de gênero. Embora mulheres frequentemente tenham jornadas pagas menores, elas são maioria em setores que operam no modelo 6×1, como telemarketing e comércio em shopping centers. A redução da jornada formal não visa, segundo Teixeira, abrir espaço para mais trabalho doméstico feminino, mas sim permitir que homens disponham de tempo para compartilhar as responsabilidades de cuidado e familiares.
Em última análise, a pesquisadora defende que a reestruturação da jornada beneficia a coletividade: melhora a qualidade de vida, aquece setores de lazer e turismo e oferece uma resposta estrutural ao adoecimento da força de trabalho. “O trabalho dignifica a vida e garante a subsistência, mas não podemos admitir viver exclusivamente para ele”, concluiu.